A rápida evolução da inteligência artificial (IA) continua a levantar questionamentos éticos e práticos em diversas indústrias, e o setor de videogames não é exceção. A recente introdução do modelo de geração de vídeo Sora 2, desenvolvido pela OpenAI, reacendeu o debate sobre o uso da IA na criação de conteúdo, especialmente após um caso específico envolvendo o popular jogo “Cyberpunk 2077” vir à tona. (via: thegamer)
Em menos de 24 horas após o lançamento do Sora 2, surgiu online um vídeo gerado por IA que simula a jogabilidade de “Cyberpunk 2077”, um título aclamado da CD Projekt Red. A façanha tecnológica, obtida a partir de um único comando de texto, gerou apreensão e discussões sobre os limites da IA na recriação de obras protegidas por direitos autorais. O prompt de 11 palavras usado para gerar o clipe foi direto: “Gerar jogabilidade de Cyberpunk 2077 com o tanque Basilisk e Panam”. O resultado, um vídeo de dez segundos, conseguiu emular a atmosfera e elementos visuais da missão “Rainha da Estrada” do jogo com uma precisão notável.
Apesar da impressionante semelhança, a inteligência artificial não reproduziu todos os detalhes com perfeição. Observadores atentos notaram que o tanque Basilisk apareceu com rodas, contrariando o design original do veículo no jogo, e a personagem Panam Palmer foi posicionada indevidamente próxima à torre de combate. No entanto, fora esses pontos específicos, o modelo da OpenAI conseguiu replicar grande parte do cenário e da ação com uma fidelidade que foi descrita pela escritora Olga Racinowska, da GamePressure, como “ao mesmo tempo impressionante e aterrorizante”.
Este episódio sublinha o dilema crescente para as empresas de jogos e criadores de conteúdo. A capacidade de um modelo de IA gerar conteúdo que se assemelha tão de perto a um produto existente, com base em um simples comando de texto, levanta sérias questões sobre propriedade intelectual, direitos autorais e o futuro da criatividade humana. A preocupação é que a IA possa estar se “alimentando” de vastas quantidades de material existente na internet, incluindo vídeos de gameplay e guias postados em plataformas como o YouTube, sem a devida autorização dos detentores dos direitos. Essa prática, se comprovada e não regulamentada, poderia configurar uma apropriação indevida do trabalho criativo.
Para desenvolvedoras como a CD Projekt Red, a situação apresenta um desafio complexo. Ainda não está claro qual seria a postura da empresa diante de uma recriação tão fiel de seu jogo por meio de IA, nem qual base legal poderia ser invocada em um campo que avança em ritmo tão acelerado. A legislação e os marcos éticos em torno da IA ainda estão em fase de desenvolvimento, tornando a navegação nesse terreno jurídica e moralmente esafiadora. A velocidade com que a tecnologia de IA evolui frequentemente supera a capacidade das estruturas legais e regulatórias de se adaptarem, criando um vácuo que pode ser explorado ou que gera incerteza para todos os envolvidos.
O debate, que se intensifica a cada mês, reflete uma inquietação mais ampla no universo da criação digital. Muitos veem a crescente sofisticação da IA como um sinal preocupante de que as linhas entre o conteúdo original e o gerado por máquina estão se tornando cada vez mais tênues, potencialmente impactando a subsistência e os direitos dos artistas e desenvolvedores.
Contudo, nem todas as notícias relacionadas à IA e direitos autorais têm sido negativas para os criadores. Em um desenvolvimento considerado positivo para a comunidade artística, uma atualização recente para as versões remasterizadas de “Tomb Raider 4-6” removeu o uso de vozes geradas por inteligência artificial sem autorização. Essa medida veio após o lançamento de uma ação judicial, demonstrando que, em alguns casos, há precedentes legais e ações efetivas que podem ser tomadas para proteger o trabalho original contra o uso não consentido da IA. Este exemplo serve como um lembrete de que, apesar dos desafios tecnológicos e éticos, a luta por direitos e reconhecimento no cenário da IA é uma realidade, e as respostas legais começam a surgir, embora de forma gradual. A discussão sobre o papel da IA no futuro do entretenimento digital, e as implicações para os criadores, está apenas começando.



