Mecânica de Ghost Of Yotei com raposas preocupa moradores de Hokkaido

Mecânica de Ghost Of Yotei com raposas preocupa moradores de Hokkaido

A interação entre videogames e a realidade tem sido objeto de debate em diversas ocasiões, e um novo capítulo dessa discussão surge com o lançamento do jogo “Ghost of Yotei”. O título, que compartilha semelhanças com o aclamado “Ghost of Tsushima”, em termos de mecânicas de exploração e interação com o ambiente, introduziu um elemento que levantou sérias preocupações entre os moradores de uma região específica do Japão. (via: thegamer)

Em “Ghost of Yotei”, os jogadores se deparam com raposas vermelhas ao longo de sua jornada. Esses animais guiam o protagonista, Atsu, até os “Fox Dens” (tocas de raposas), que abrigam amuletos valiosos para equipar. Em agradecimento pela ajuda, o jogo oferece a possibilidade de acariciar as raposas, retratadas de forma adorável e convidativa. A mecânica, aparentemente inofensiva e até cativante, permite que os jogadores deem “um carinho atrás da orelha” nesses pequenos mamíferos.

No entanto, essa funcionalidade específica do jogo gerou um inesperado alarme. Pouco depois do lançamento de “Ghost of Yotei” e da descoberta de que era possível acariciar as raposas vermelhas virtuais, moradores da ilha japonesa de Hokkaido começaram a expressar preocupação nas redes sociais, conforme noticiado pelo portal Automaton. O temor é que a mecânica do jogo possa levar a uma interpretação equivocada na vida real, incentivando especialmente turistas estrangeiros ou jovens impressionáveis a tentar interagir com as raposas selvagens da região, colocando suas vidas em risco.

O motivo da apreensão é grave e específico: as raposas vermelhas de Hokkaido são conhecidas por poderem ser portadoras de uma doença parasitária chamada equinococose. Esta infecção, se contraída por humanos, pode ser fatal. A equinococose é uma doença causada por vermes do gênero Echinococcus, cujos ovos são eliminados nas fezes dos animais infectados, como as raposas. Ao entrar em contato com esses ovos, seja por ingestão de água ou alimentos contaminados, ou por contato direto com o animal ou suas fezes, o ser humano pode desenvolver cistos em órgãos vitais, como fígado e pulmões. Os sintomas podem demorar a aparecer e, se não tratada adequadamente, a doença pode ser letal.

A região de Hokkaido já enfrenta há bastante tempo um desafio significativo de saúde pública devido à prevalência da equinococose. As autoridades locais têm trabalhado incansavelmente para informar a população sobre os riscos e as medidas preventivas. Moradores são constantemente orientados a evitar fontes de água não tratada e, de maneira crucial, o contato com fezes de raposas para prevenir a infecção. Dada a seriedade da doença e os esforços contínuos para contê-la, acariciar uma raposa vermelha selvagem em Hokkaido é considerado uma atitude extremamente perigosa e irresponsável.

Diante desse cenário, a preocupação dos habitantes de Hokkaido se torna compreensível. O receio é que os desenvolvedores do jogo, ao incluírem uma mecânica de carinho às raposas, possam inadvertidamente normalizar a interação com esses animais em um ambiente onde tal contato é altamente perigoso. A imagem de raposas adoráveis no jogo pode levar alguns a subestimar os perigos reais, gerando uma falsa sensação de segurança ou desconsiderando os alertas de saúde pública.

É fundamental reiterar que, de modo geral, interagir com qualquer animal selvagem é desaconselhável. Animais selvagens podem reagir de forma imprevisível, carregar diversas doenças (não apenas a equinococose) e se sentir ameaçados pela aproximação humana, o que pode resultar em ferimentos para ambos. No contexto de Hokkaido, o perigo é exponencialmente maior devido à endemia da equinococose. A repercussão do jogo serve como um lembrete contundente das complexas e por vezes inesperadas interações entre o universo da cultura pop e as realidades ambientais e de saúde pública de diferentes regiões do mundo.

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