A indústria dos videogames, frequentemente vista como um reduto de entusiastas que cresceram imersos em seus universos digitais, vez ou outra revela histórias que desafiam essa percepção comum. Uma dessas narrativas singulares emerge dos bastidores de “Clair Obscur: Expedition 33”, um título que já gera burburinho pela sua proposta inovadora e pela forma, um tanto quanto peculiar, como sua equipe se formou. No centro dessa história, figura a escritora-chefe do projeto, Jennifer Svedberg-Yen, cuja trajetória pessoal antes de ingressar na Sandfall Interactive surpreende e intriga. (via: gamesradar)
Em uma entrevista concedida à plataforma Lits Play, Svedberg-Yen fez uma revelação que contradiz a expectativa de muitos para alguém em sua posição: “Antes disso, eu não jogava nenhum videogame”, admitiu. Essa declaração, no mínimo inesperada, não foi fruto de uma escolha consciente de se afastar do universo gamer, mas sim o resultado de uma combinação de fatores enraizados em sua realidade cultural e social. Crescer como a filha mais velha em um “lar chinês muito rigoroso” e o elevado custo dos videogames na época foram determinantes para que essa paixão digital nunca se desenvolvesse em sua juventude.
Naquele período, enquanto seu irmão mais novo eventualmente conseguia ter acesso a um console, o caminho de Svedberg-Yen era outro. “Eu ia à biblioteca e… lia livros”, contou a escritora, ilustrando como o mundo da literatura preencheu o espaço que os jogos poderiam ter ocupado. Sua única experiência com narrativas interativas antes de se juntar à Sandfall Interactive vinha dos RPGs de mesa, como o renomado “Dungeons & Dragons”. Essa vivência, embora não digital, já demonstrava uma afinidade com a construção de mundos e o desenvolvimento de tramas complexas, habilidades que seriam cruciais em sua futura carreira.
A virada em sua vida profissional e pessoal ocorreu precisamente ao ser contratada pela Sandfall. Foi então que ela percebeu a necessidade de mergulhar de cabeça no universo que agora seria seu ofício. “Ok, é melhor eu começar a investigar o que é isso, preciso fazer minha lição de casa”, decidiu, demonstrando proatividade e dedicação para compreender o meio que a acolhia. Essa imersão, contudo, não foi solitária. Ela contou com o apoio fundamental de seu marido, um entusiasta de longa data, que a guiou pelos primeiros passos nesse novo território.
Svedberg-Yen revelou que sua primeira incursão no mundo dos videogames foi com a série “Borderlands”. O que começou como uma “lição de casa” rapidamente se transformou em uma paixão ardente. A partir daquele momento, a escritora não apenas aprendeu a jogar, mas desenvolveu um nível de envolvimento que a catapultou para o seleto grupo dos “caçadores de troféus”, um termo usado para jogadores que buscam completar todos os desafios e conquistas de um jogo. A transformação é tamanha que, hoje, ela e o marido possuem uma configuração impressionante em casa: “Temos duas TVs, dois PlayStations, sentamos lado a lado”, descreveu.
Sua jornada de novata a gamer hardcore é marcada por conquistas notáveis. Em menos de cinco anos, Jennifer Svedberg-Yen, que sequer jogava antes, alcançou o cobiçado “platina” em títulos que exigem alta perícia e dedicação. Entre suas conquistas estão jogos como “Elden Ring”, da FromSoftware, conhecido por sua dificuldade extrema, além de “God of War” e “God of War: Ragnarök”, aclamados por suas narrativas e jogabilidade desafiadoras. Tal façanha, passar de uma completa leiga para alguém capaz de “platinar” um jogo da FromSoftware em um período tão curto, é um testemunho de sua capacidade de aprendizado e paixão recém-descoberta.
Essa rápida e profunda imersão no universo dos videogames não é apenas uma curiosidade em sua biografia, mas um fator que certamente enriquece sua contribuição como escritora-chefe de “Clair Obscur: Expedition 33”. Sua perspectiva única, que combina uma formação em narrativas tradicionais com uma rápida assimilação das nuances do design de jogos modernos, pode ser o diferencial para o título que já figura entre os potenciais concorrentes a “Jogo do Ano”. Como ela mesma conclui, com um toque de humor e autoconsciência: “Acho que se pode dizer que eu jogo bastante nos dias de hoje.” A julgar por sua trajetória e pelas expectativas em torno de seu trabalho, é provável que essa fase de gamer dedicada continue por um bom tempo.



