A história da PlayStation não pode ser contada sem um reconhecimento profundo da contribuição da Psygnosis. Adquirida pela Sony no início dos anos 90, antes mesmo do lançamento do primeiro console PlayStation, a desenvolvedora britânica desempenhou um papel fundamental na construção da identidade da plataforma, especialmente no mercado europeu. Títulos como Wipeout, Colony Wars e a série Formula 1 da Psygnosis foram essenciais para consolidar a marca PlayStation. No entanto, o relacionamento entre a gigante japonesa e o estúdio britânico nem sempre foi tranquilo, e um episódio em particular, envolvendo o lançamento de Wipeout 64 para o Nintendo 64 no auge da guerra dos consoles, gerou considerável atrito. (via: gamesradar)
A decisão da Psygnosis de desenvolver uma versão de seu aclamado jogo de corrida futurista para uma plataforma concorrente causou surpresa e, por vezes, animosidade dentro da Sony. Alan Welsman, ex-chefe de relações públicas da PlayStation, recordou o incidente em um evento de aniversário da PlayStation, conforme relatado pelo portal The Game Business. Questionado sobre Wipeout 64, Welsman expressou sua perplexidade de forma bastante enfática, embora com um tom de brincadeira, dirigindo-se a Glen O’Connell, ex-líder de relações públicas da Psygnosis, com a pergunta: “O que diabos a Psygnosis estava fazendo no N64? Traidores.” Embora a atribuição de “traidores” tenha sido feita em tom de piada, a lembrança de Welsman sublinha uma tensão genuína que existia na época.
Antes mesmo do surgimento de Wipeout 64, rumores já circulavam nos círculos da indústria de jogos, sugerindo que a Sony estaria considerando vender a Psygnosis. Naquele período, a imprensa especializada especulava que a Sony poderia estar insatisfeita com o fato de a Psygnosis estar desenvolvendo jogos não apenas para o PlayStation e PC, mas também para o Sega Saturn, um dos principais rivais do PS1. Contudo, essa parte da história é hoje contestada por figuras-chave, e a percepção geral é que a Psygnosis era um ativo valioso demais para ser descartado pela Sony.
Glen O’Connell explica que a Psygnosis, apesar de estar alinhada com a Sony, operava com um grau significativo de autonomia. Segundo ele, essa independência era uma prerrogativa dos fundadores da empresa, que prezavam o espírito autônomo da Psygnosis. “Continuamos a fazer jogos para outras plataformas”, afirmou O’Connell. As duas primeiras versões de Wipeout, por exemplo, foram lançadas principalmente para PlayStation, mas também apareceram no Sega Saturn, algo que O’Connell não acredita ter sido um problema para a Sony na ocasião.
No entanto, o cenário mudou drasticamente com a chegada inesperada de Wipeout 64 em 1998. O’Connell descreveu a surpresa da Sony: “Certamente, em uma das E3s, quando ele [o jogo] apareceu no Nintendo… simplesmente surgiu no estande.” A reação de alguns executivos da Sony foi de espanto e questionamento sobre o que estava acontecendo. A capacidade da Psygnosis de manter sua autonomia para desenvolver os jogos que desejava, embora demonstrasse um espírito “maverick”, eventualmente criou desafios e atritos dentro do grupo Sony, mais amplo e hierárquico.
Apesar de sua contribuição seminal para a era do PlayStation original e de ter sido uma força definidora para o console com seus títulos inovadores, a Psygnosis eventualmente foi completamente absorvida pela estrutura da PlayStation, perdendo sua identidade autônoma e sendo, em essência, extinta como um estúdio independente. O “espírito maverick” que lhe permitiu criar jogos para consoles rivais, como o N64, e que foi motivo de orgulho para seus fundadores, pode ter sido, paradoxalmente, um dos elementos que dificultaram sua permanência como uma entidade separada dentro do ecossistema cada vez mais integrado da Sony PlayStation. A trajetória da Psygnosis é um lembrete complexo de como a criatividade e a autonomia podem colidir com os interesses corporativos em um mercado de rápido crescimento.
