IA generativa é cobra que morde a cauda, diz diretor de The Last of Us

IA generativa é cobra que morde a cauda, diz diretor de The Last of Us

O renomado diretor Bruce Straley, conhecido por seu trabalho em títulos como The Last of Us na Naughty Dog, expressou uma forte e veemente crítica à inteligência artificial generativa, descrevendo a tecnologia como “uma cobra que morde a própria cauda”. As declarações de Straley surgem em um momento de crescente debate na indústria de jogos sobre o uso e o impacto da IA. (via: eurogamer)

Straley, que deixou a Naughty Dog em 2017 e desde então fundou seu próprio estúdio independente, a Wildflower Interactive, compartilhou sua perspectiva durante uma entrevista à Polygon. O contexto da conversa era o lançamento de Coven of the Chicken Foot, o jogo de estreia de seu novo estúdio. O diretor não poupou palavras ao manifestar seu descontento com a IA generativa. “É uma cobra que morde a própria cauda”, afirmou ele. “Ela não consegue crescer e pensar por si mesma; apenas consome e tenta imitar o que consumiu. É o melhor que ela pode fazer atualmente.”

Straley confirmou que a inteligência artificial generativa não foi utilizada no desenvolvimento de Coven of the Chicken Foot. Ele fez questão de ressaltar a diferença entre o conceito moderno de IA generativa e o termo “IA” como historicamente empregado na indústria de jogos, onde se refere a aspectos como o comportamento de personagens não-jogáveis (NPCs) ou a programadores de IA. A confusão terminológica, segundo ele, pode levar a equívocos significativos.

“É difícil até mesmo apresentar o conceito desta criatura [do jogo], porque no meu mundo, NPCs são IA”, explicou Straley. “Programadores de IA são um tipo de pessoal que você tem na equipe do departamento de programação. Agora você não pode dizer isso porque, se alguém tiver uma opinião sobre IA, não posso mais chamar esta criatura de ‘a mais avançada companheira de IA’. As pessoas vão pensar que usamos aprendizado de máquina, LLMs e tudo mais. Não, não fizemos nada disso. Isso é trabalho árduo, muita resolução de problemas e muito pensamento criativo. O que eu acho que torna [o jogo] mais charmoso.”

O diretor também manifestou uma preferência por uma estética que valoriza a mão humana e suas imperfeições. “Gosto de arte que tem falhas e defeitos. É como cerâmica. Tem imperfeições porque não saiu do forno perfeitamente. Isso é o legal da arte”, disse ele, reforçando sua valorização pelo processo criativo orgânico e não automatizado.

Embora Straley admita que a IA generativa possa ter utilidade em algumas instâncias específicas, ele deixou claro seu desinteresse pessoal em utilizá-la ou em consumir conteúdo gerado por ela. “Sinto que, sem um ser humano por trás da criação, eu pessoalmente não tenho nenhum interesse em assistir a um programa de TV feito por um robô”, declarou. “Não tenho nenhum interesse em olhar para a arte que é gerada por um computador. Não acho que ‘prompting’ seja arte.”

As observações de Bruce Straley se alinham a uma série de debates recentes na indústria. Elas vêm à tona pouco tempo depois das declarações de Swen Vincke, CEO da Larian Studios – o estúdio por trás do aclamado Baldur’s Gate 3. Em entrevista à Bloomberg, Vincke havia inicialmente admitido o uso de IA generativa no processo de desenvolvimento da Larian. A declaração gerou uma reação negativa na internet, levando Vincke a emitir uma clarificação.

Na sua explicação, Vincke detalhou que a Larian não pretendia substituir artistas conceituais por IA. Em vez disso, o estúdio utiliza “ferramentas de IA para explorar referências”, e os desenvolvedores são livres para “experimentar com essas ferramentas para facilitar suas vidas”, se assim desejarem. A intensidade da repercussão às declarações iniciais de Vincke é um testemunho das fortes e muitas vezes polarizadas opiniões que o uso da inteligência artificial generativa pode provocar no meio criativo.

Coven of the Chicken Foot, o projeto que marcou a estreia da Wildflower Interactive de Bruce Straley, foi revelado ao público durante o The Game Awards deste ano, consolidando o retorno do diretor ao cenário de desenvolvimento de jogos com uma proposta que valoriza o esforço humano e a criatividade original.

Ofertas

1