A discussão sobre o uso de inteligência artificial generativa na indústria de videogames ganhou novo fôlego após o CEO da Larian Studios, Swen Vincke, revelar que o estúdio, responsável pelo aclamado Baldur’s Gate 3, emprega a tecnologia em seu fluxo de trabalho. A declaração de Vincke, que indicou que a maioria dos funcionários da Larian estava “ok” com a integração da IA, gerou uma intensa reação nas redes sociais, com fãs e desenvolvedores expressando preocupações significativas. Diante do debate acalorado, figuras proeminentes do setor, como Daniel Vávra, líder do desenvolvimento de Kingdom Come: Deliverance, e Bruce Straley, ex-diretor da Naughty Dog, compartilharam suas perspectivas, evidenciando as complexas visões sobre o futuro da IA no desenvolvimento de jogos. (via: kotaku)
Is AI needed in gaming? Bruce Straley (Co-Director of TLOU) gives his thoughts. pic.twitter.com/msJdOS9Rlm
— Kinda Funny (@KindaFunnyVids) December 17, 2025
Ambos os veteranos da indústria, Vávra e Straley, convergem na crença de que a inteligência artificial generativa veio para ficar no desenvolvimento de jogos. Contudo, suas abordagens e sentimentos em relação a essa realidade diferem consideravelmente.
Daniel Vávra utilizou sua conta na plataforma X para responder às declarações de Vincke, oferecendo uma análise extensa. Apesar de se declarar “não ser fã de arte gerada por IA”, Vávra argumentou que os críticos precisam “encarar a realidade” de que a tecnologia é uma presença permanente. Ele expressou frustração com o longo e custoso processo de desenvolvimento de jogos, citando que “leva 7 anos, 300 pessoas e dezenas de milhões de dólares para fazer” um jogo. Para ilustrar a ineficiência, ele mencionou um exemplo específico: a necessidade de um funcionário chamado “Tom” ter gastado “500 horas no estúdio gravando provocações e frases genéricas”.
Vávra defende que, se a IA puder auxiliar na criação de um “jogo épico em um ano com uma equipe menor, como nos velhos tempos”, ele é totalmente a favor. Ele esclareceu que essa abordagem não eliminaria papéis essenciais, como diretor de arte, roteiristas, programadores e designers gráficos. Em vez disso, a IA liberaria esses profissionais de “tarefas tediosas e chatas”, permitindo-lhes focar no que é fundamental e criativo. O desenvolvedor, aos cinquenta anos, ressaltou o tempo médio de sete anos que leva para concluir um jogo e sua esperança de que a IA o ajude a concretizar suas ideias com maior rapidez. Ele também levantou a hipótese de uso da IA para gerar respostas apropriadas de personagens não-jogáveis (NPCs) a perguntas variadas, sugerindo um potencial para interações mais dinâmicas e complexas.
Por outro lado, Bruce Straley, embora também acredite na permanência da IA generativa, assumiu uma postura contrária ao seu uso em sua atual empresa, Wildflower Interactive. Straley, porém, admitiu que talvez não consiga manter essa oposição indefinidamente. Em entrevista ao Kinda Funny, ele foi enfático ao declarar: “Não precisamos de IA”. Ele expressou preocupações mais profundas sobre o impacto da tecnologia na humanidade, afirmando: “Eu realmente acho que é o fim da espécie humana”.
Straley criticou a tentativa de replicar as capacidades do cérebro humano através da IA, um órgão que levou “centenas de milhares de anos para se construir”, enquanto a tecnologia demanda vastos recursos. Ele mencionou a construção de “campos de futebol” de infraestrutura e o “esgotamento dos recursos hídricos” para tentar replicar algo que um humano já é capaz de fazer, concluindo que “simplesmente não faz sentido para mim”.
A polarização de opiniões na indústria reflete um momento de transição e incerteza. Enquanto Vávra sugere que “absolutamente todos os outros” já estão empregando IA generativa em alguma capacidade no desenvolvimento de jogos, a postura de Straley representa uma resistência ética e pragmática à medida que a tecnologia avança. O debate continua aberto sobre como o equilíbrio entre inovação tecnológica e a preservação do trabalho criativo humano será alcançado no futuro dos videogames.



