A mais recente edição do Indie Game Awards (IGAs), uma premiação anual conhecida por celebrar o melhor dos jogos independentes, viu-se forçada a revogar três de seus prêmios concedidos na semana passada, incluindo o cobiçado título de Jogo do Ano. A decisão gerou discussões na comunidade gamer, especialmente devido aos valores progressistas que o evento, organizado pela Six One Indie, busca promover. (via: kotaku)
O prêmio de Jogo do Ano e o de Melhor Jogo de Estreia foram inicialmente concedidos a Clair Obscur: Expedition 33. A escolha já havia sido alvo de controvérsia, visto que o jogo não se encaixa na definição usual de “indie” para muitos. No entanto, a principal razão para a revogação foi a alegação de que a desenvolvedora, Sandfall Interactive, não foi transparente sobre o uso de inteligência artificial generativa na produção do jogo.
Os IGAs mantêm uma postura firme contra o uso de ferramentas de IA generativa no processo de nomeação e durante a cerimônia. Em um comunicado publicado nas perguntas frequentes do site da premiação, e reiterado por Mike Towndrow, da Six One Indie, em um vídeo na plataforma BlueSky, foi explicado que, no momento da submissão, um representante da Sandfall Interactive garantiu que nenhuma IA generativa havia sido utilizada no desenvolvimento de Clair Obscur: Expedition 33. Contudo, no próprio dia da premiação de 2025, a Sandfall Interactive confirmou a presença de arte gerada por IA na produção. Embora os ativos em questão tenham sido posteriormente corrigidos e o jogo seja considerado de alta qualidade, a admissão desqualificou Clair Obscur: Expedition 33 de suas nomeações, indo contra as diretrizes estabelecidas.
Diante disso, o comitê de nomeação dos IGAs oficializou a retirada dos prêmios de Jogo do Ano e Melhor Jogo de Estreia de Clair Obscur: Expedition 33. Como resultado da reavaliação, Blue Prince foi agraciado com o prêmio de Jogo do Ano, enquanto Sorry We’re Closed, da à la mode games, recebeu o título de Melhor Jogo de Estreia.
A terceira revogação se refere a um dos prêmios Indie Vanguard, concedido a Chantey, um jogo com estilo de Game Boy desenvolvido pelo estúdio grego Gortyn Code. A equipe dos IGAs descobriu, após o anúncio, que a versão física do jogo era produzida e vendida exclusivamente pela ModRetro, uma empresa de jogos retrô pertencente ao bilionário Palmer Luckey. Luckey é conhecido por ser o fundador da Oculus e também dirige a Anduril Industries, uma empresa de defesa que atua na venda de armas.
A conexão da ModRetro com Palmer Luckey e a Anduril Industries foi um ponto crítico. A situação foi ainda mais evidenciada com o anúncio do Anduril Chromatic, um dispositivo de jogos retrô fabricado com o mesmo metal utilizado nos drones militares da empresa. Conforme declarado nas perguntas frequentes dos IGAs, o comitê de nomeação foi informado sobre a natureza e os princípios da ModRetro no dia seguinte à estreia da premiação de 2025, com a notícia do próximo console portátil da empresa.
Os IGAs afirmaram que a ModRetro “vai estritamente contra os valores” da organização. Dessa forma, devido aos laços com a ModRetro, o prêmio Indie Vanguard para Chantey foi igualmente revogado, com o objetivo de não fornecer uma plataforma para a empresa. É importante ressaltar que a decisão não reflete uma crítica ao Gortyn Code ou ao jogo Chantey, que foi descrito como “uma maravilhosa homenagem à era do Game Boy”. A organização até incentivou o público a buscar o jogo em sua página no Itch.io, onde ele pode ser jogado.
A Six One Indie, organizadora do Indie Game Awards, reforça que seus valores progressistas e o desejo de apoiar a cena independente de maneira positiva diferenciam suas intenções e seleções de outras cerimônias de premiação. Embora alguns possam preferir que organizadores de prêmios não permitam que posições ideológicas determinem seus critérios, os IGAs são de propriedade e gerência independentes da Six One Indie, o que lhes permite estabelecer suas próprias regras. Os discursos de aceitação dos novos vencedores serão gravados para substituir os originais.
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