Com quase quatro décadas de experiência em videogames e mais de vinte anos escrevendo sobre o tema, um jornalista experiente raramente se sente surpreendido por um título. Contudo, foi exatamente isso que aconteceu com “Blades of Fire”, a aventura de ação no estilo soulslike desenvolvida pela Mercury Steam. O jornalista havia apreciado a reimaginação de Castlevania do estúdio, “Lords of Shadow”, mas mantinha uma opinião mais morna sobre seus trabalhos posteriores, como “Metroid Dread”. Por isso, suas expectativas para “Blades of Fire” eram de baixas a moderadas. Surpreendentemente, contudo, o título se revelou o mais envolvente e agradável que ele jogou naquele ano. (via: eurogamer)
Os primeiros contatos com “Blades of Fire” foram, de fato, bastante negativos. O jornalista relata que, se não estivesse em processo de análise, provavelmente teria abandonado o jogo, adotando a filosofia de “cortar as perdas” em vez de investir tempo em algo desprazeroso. Naquelas horas iniciais, o combate parecia injusto e implacável, os personagens eram monótonos e genéricos, e os visuais eram pouco inspirados, com uma nítida sensação de “última geração”. Dada a natureza soulslike do combate, ele tentou e falhou repetidamente em progredir de forma significativa pela primeira área. A frustração era intensa, e ele se irritava por dedicar tempo a um jogo que, então, detestava.
Então, para sua grande surpresa, o jogo finalmente “engrenou”.
“Blades of Fire” é, em sua essência, um jogo de aventura, repleto de caminhos obscuros, pontes a serem cruzadas e escadarias imponentes a serem escaladas. Cada elemento levava a algum lugar que valia a pena explorar, fosse para encontrar algo interessante ou simplesmente apreciar a vista, mesmo que não fosse o destino principal. Aquela impressão inicial de um jogo sem brilho não poderia estar mais distante da realidade que se desdobrava. O mundo fantástico de “Blades of Fire” convida à imersão profunda, à admiração e ao puro prazer da descoberta. Contudo, essa beleza seria em vão se a jogabilidade oferecesse apenas frustração.
O design do mundo, um de seus pontos altos, transformava a exploração em pura alegria. Não há conforto em “Blades of Fire”, nem um ritmo fácil de se encontrar. Mesmo após trinta horas de jogo, qualquer lapso de concentração pode gerar grandes problemas, mas o esforço é recompensado, segundo o crítico. Em sua vasta experiência, poucos jogos lhe proporcionaram um sentido tão forte de exaltação, descoberta e o que ele descreve como a “essência pura do videogame”.
O combate do jogo, embora não seja uma inovação revolucionária capaz de mudar a indústria, foi construído sobre uma abordagem alternativa em que a equipe de desenvolvimento acreditou firmemente, moldando todo o jogo em torno dela. Isso inclui um sistema inovador de forja de armas que, embora não tenha sido o favorito do crítico, teve sua tentativa de trilhar um caminho diferente apreciada. “Blades of Fire” o surpreendeu não apenas por se tornar um de seus jogos favoritos da geração, mas também por sua singularidade, por se sentir diferente da maioria dos títulos que já havia jogado. Essa sensação de originalidade é rara no mundo dos videogames de alto orçamento. E, embora não seja um título “triple-A” no patamar de um “Marvel’s Spider-Man”, seu orçamento seria suficiente para causar espanto em estúdios independentes menores.
Outro título que marcou o crítico no que seria sua “playlist de 2025” foi “Death Stranding”. Ele finalmente criou coragem para jogá-lo, impulsionado em parte pelos elogios à sua aguardada sequência, lançada naquele ano. “Death Stranding” também se distancia das convenções, mantendo apenas os fundamentos mais básicos e amplamente aceitos dos videogames. A ruptura de Hideo Kojima com “Metal Gear Solid” e a Konami, segundo o jornalista, é desconcertante, jogando conceitos no ar como confetes em um casamento. Nomes de personagens beiram a paródia, e temas profundamente sérios, se viessem de outro criador, poderiam facilmente resvalar para o ridículo. O crítico não se considera um “fã de Kojima”, mas reconhece que a indústria seria inegavelmente mais pobre sem seu estilo vanguardista e grandioso.
“Death Stranding” é um jogo mais refinado que “Blades of Fire” e, além disso, assume mais riscos, em parte porque seu criador é uma das maiores celebridades da indústria, com uma base de fãs que a Mercury Steam e outros estúdios de desenvolvimento só podem sonhar. Ambos os jogos, no entanto, ressaltam a importância crucial de uma visão autêntica, em vez de um documento de design exaustivamente testado por grupos focais que suaviza as arestas e, no processo, apaga a magia inerente aos videogames. O jornalista conclui que, mesmo que nem todas as ideias se concretizem, ele prefere um título que assume riscos a um que não tenta nenhuma originalidade.



