Remasters de títulos clássicos de pixel art costumam gerar opiniões controversas. De um lado, existem exemplos de execuções impecáveis, como Dragon Quest 3 HD-2D. De outro, temos casos como Chrono Cross ou Final Fantasy VIII Remastered, que utilizam upscaling por IA, comprometendo os assets originais, uma vez que poucas alternativas existem além de redesenhar tudo do zero. A disponibilização de títulos antigos em novos hardwares sempre apresenta desafios: perda do código-fonte original, saída de talentos das empresas desenvolvedoras ou outros fatores que transformam a experiência para fãs de séries clássicas em um exercício de conciliação. No entanto, a partir do que se observou em Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles, o jogo busca algo mais.
via: www.thegamer.com
Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles se apresenta como uma combinação ideal. Desde o início, fica claro que a Square Enix pretende oferecer mais do que um simples remaster. Diferentemente do War of the Lions de 2007, não serão reaproveitados os conteúdos deste último. Em vez disso, o jogo apresenta um roteiro refinado, com adições e ajustes próprios. Em vez de replicar diretamente o original de 1997, o título é apresentado como a experiência definitiva, combinando elementos antigos e novos. Essa ambição fica evidente na sequência de abertura animada, que revive com maestria os designs de personagens de Akihiko Yoshida e o universo de Ivalice. Trata-se de um mundo clássico de espadas e magia, bastante diferente da estética dieselpunk de Final Fantasy VII. Mas essa divergência é justamente o que tornou tudo tão memorável, conferindo às classes icônicas da série uma identidade própria, tanto em termos de personagens quanto de narrativa.
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No menu principal, o jogador pode escolher entre a apresentação gráfica clássica, sem dublagem e adições similares, ou a versão remasterizada, que inclui esses recursos. A oferta de ambas as opções é um ponto positivo, evitando que a versão original seja relegada. Os fãs de Tactics já conhecem bem a narrativa, que acompanha Ramza após a Guerra dos Cinquenta Anos, em sua busca por um lugar no reino, onde nobres poderosos oprimem os menos favorecidos. É uma história intrinsecamente política, com personagens e temas memoráveis. Em uma prévia, não foi possível observar amplamente como Ivalice Chronicles expande essa narrativa. A Square Enix confirmou que a maioria dos personagens agora possui dublagem completa, dentro e fora das batalhas, além de mudanças no roteiro para refletir as ambições do projeto. Isso inclui novas falas e enredos, buscando aprofundar o mundo fantástico. Tactics já apresenta uma história atemporal sobre conflitos políticos, considerada pelo diretor Yasumi Matsuno tão relevante hoje quanto há três décadas. A expectativa é ver como essa perspectiva será expandida e aprofundada. Um ponto que gerou preocupação foi o impacto da dublagem no ritmo das cenas, tanto as já existentes quanto as que ocorrem durante as batalhas.
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A preocupação com o ritmo de jogo é justificada. Final Fantasy, até Final Fantasy X para PS2 em 2001, era baseado em texto. Os jogadores criavam as vozes e personalidades dos personagens, resultando em experiências únicas. Tactics não era diferente. Seja em cenas ou em batalhas, era necessário ler vários blocos de texto para acompanhar a história. A escrita era concisa, dispensando a necessidade de dublagem para envolver o jogador. Ivalice Chronicles adiciona a dublagem a uma experiência de jogo que, exceto pela possibilidade de acelerar as batalhas (como em muitos remasters de JRPGs da última década), pouco mudou. O ritmo das batalhas, onde conversas extensas frequentemente acontecem, permanece inalterado, apesar da adição da dublagem. Em duas batalhas observadas, isso alterou significativamente o ritmo. Antes, a leitura das falas levava segundos; agora, a entrega das falas por certos personagens pode levar várias vezes mais tempo. Embora não seja necessariamente negativo, sem mudanças nas batalhas, a experiência se torna significativamente diferente do jogo original. A dublagem em si parece boa, com talentos conhecidos, como Ben Starr (Final Fantasy XVI), dando vida a personagens icônicos.
A jogabilidade, em si, permanece em grande parte inalterada. O jogador viaja por um mapa mundial para avançar na história, antes de participar de batalhas, onde escolhe unidades e recebe o contexto da luta. Os combates são desafiadores, exigindo consideração não apenas da posição das unidades, mas também de suas habilidades e de como utilizá-las. Em uma fase, o objetivo era impedir a morte da Princesa Ovelia, enquanto inimigos se aproximavam por todos os lados. As batalhas opcionais, que permitem o ganho de experiência para os personagens, são um destaque, tornando a experiência mais completa. A expectativa é que Ivalice Chronicles inclua mais dessas batalhas.
Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles equilibra remaster e remake. Com o retorno de muitos membros da equipe original, o jogo demonstra ter sido desenvolvido com carinho. Embora haja preocupações com o ritmo da narrativa devido à dublagem, a jogabilidade, os gráficos refinados e a narrativa envolvente geram entusiasmo. Após anos de espera por uma versão moderna, a chegada de um jogo com essa qualidade é motivo de satisfação.
                            





