Criador de Fallout alerta que IA e demissões destroem o saber

Criador de Fallout alerta que IA e demissões destroem o saber

A indústria global de videogames atravessa um período de intensas transformações, marcado por ondas significativas de demissões e um avanço notável na integração da inteligência artificial em processos de desenvolvimento. Neste cenário desafiador, um nome de peso na criação de jogos, Tim Cain, cofundador da aclamada série Fallout, levanta um alerta crucial sobre a preservação do conhecimento institucional e o impacto devastador que sua perda pode ter nas equipes, independentemente do tamanho. (via: gamesradar)

Cain, que desenvolve jogos desde a década de 1980, é uma figura lendária do meio. Sua carreira, que inclui a co-criação do universo Fallout e a co-direção de The Outer Worlds, permitiu-lhe observar a fundo as nuances e os requisitos para a longevidade no desenvolvimento de jogos. É com base nessa vasta experiência que ele expressa sua preocupação com as decisões que publishers e empresas têm tomado para “acompanhar os tempos”.

Em um vídeo recente divulgado no YouTube, o desenvolvedor destaca que a rotatividade de pessoal e as demissões podem deixar as empresas em uma situação precária. “Você fica com uma empresa onde ninguém sabe nada sobre [um projeto específico]”, afirma Cain. Ele detalha que, em tais cenários, o conhecimento sobre o armazenamento de dados e ativos, e até mesmo sobre a forma como essas informações foram organizadas, é perdido. “É assim que as coisas se perdem ou são extraviadas”, adverte.

Essa preocupação se estende tanto à funcionalidade de sistemas quanto à gestão simples de ativos. Cain compartilha anedotas que ilustram a gravidade do problema. Ele relembra situações em que, após deixar equipes, recebeu chamadas com perguntas sobre como havia feito certas funcionalidades operarem. O desenvolvedor descreve ainda um cenário que ele “gostaria que fosse hipotético”, no qual peças de trabalho são armazenadas sem atualização por anos a fio, “apodrecendo” em dispositivos, pois ativos digitais necessitam de movimentação e manutenção periódicas para evitar sua degradação ou obsolescência.

No entanto, mesmo que os ativos sejam preservados, outro obstáculo pode surgir. “Às vezes, eles têm os ativos, mas não sabem nada sobre eles”, explica Cain. Isso significa que, mesmo que os dados sejam tecnicamente recuperáveis, a falta de compreensão sobre seu contexto ou finalidade os torna inúteis. “Isso só piora a situação. Muitas empresas são companhiões bilionárias e deveriam saber disso, mas não sabem porque as pessoas que realmente sabiam, foram embora”, pontua o especialista, evidenciando uma falha sistêmica na retenção do capital intelectual.

Tim Cain conclui suas observações reforçando um ponto fundamental: todo o conhecimento prático e o know-how essenciais para a criação de um jogo residem nas pessoas que o desenvolvem. Ele enfatiza que esse conhecimento não está contido apenas em documentos de design, em pilares estratégicos ou nos valores da empresa. “Essas coisas vêm das pessoas que estão realmente lá. Mude as pessoas, mude a natureza dessas coisas, mude o jogo”, afirma, sublinhando a conexão intrínseca entre a equipe e a essência do projeto.

A trajetória de Cain é um testemunho de sua imersão profunda no universo dos videogames. Houve um período em sua carreira, de aproximadamente uma década, em que sua dedicação ao desenvolvimento de jogos era tão intensa que ele se viu alheio a outros aspectos da cultura pop. Em uma ocasião, chegou a perguntar a um colega de trabalho se a cantora Britney Spears seria uma “nova arma” em um dos RPGs em que estavam trabalhando. Essa anedota, embora leve, ressalta a profundidade de seu envolvimento e a perspectiva única que ele traz para o debate sobre a sustentabilidade e a inovação na indústria, fazendo de sua advertência um eco importante em tempos de rápida mudança.

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