A indústria de jogos eletrônicos testemunhou recentemente um debate acalorado e eticamente questionável em torno da personagem Hinako, a protagonista de Silent Hill f. O jogo, ambientado no Japão dos anos 1960, apresenta Hinako como uma adolescente japonesa, com idade estimada em torno dos 14 anos, que se encontra em uma cidade envolta em névoa e infestada por monstros. No entanto, o foco de parte da comunidade de jogadores desviou-se da narrativa de terror e sobrevivência para a aparência da jovem personagem, gerando controvérsia e preocupações sobre a objetificação de figuras menores de idade em produções digitais. (via: thegamer)
A polêmica surgiu com reclamações de que a personagem não seria “atraente o suficiente” para alguns jogadores. Indo além, certos comentários expressavam o desejo de ter uma visão “por baixo da saia” de Hinako. A situação escalou com a criação e disseminação de modificações (popularmente conhecidas como “mods”) que visavam tornar a personagem “mais kawaii”, um termo japonês frequentemente traduzido como “fofa” ou “adorável”. A descrição de um desses mods específicos detalha que o criador “ajustou o modelo para obter uma melhor simetria facial, suavizar a linha da mandíbula e encurtar ligeiramente o queixo” de Hinako. As reações nos comentários desses mods têm sido amplamente descritas como “no mínimo, desconfortáveis”, evidenciando um ambiente problemático de discussão online.
Este episódio ecoa uma controvérsia anterior, envolvendo a personagem Ashley Graham no remake de Resident Evil 4. Naquela ocasião, uma parcela dos jogadores manifestou descontentamento com o que consideraram uma “censura” em relação ao traje da personagem, sugerindo um padrão de demanda por representações específicas e, por vezes, sexualizadas de personagens femininas em jogos.
Retornando ao caso de Hinako, um jogador atribuiu as supostas “otimizações de modelagem” da personagem – uma forma eufemística de se referir à sua alegada falta de atratividade – a uma “censura do mercado ocidental”. Outros chegaram a afirmar que as modificações criadas por fãs “salvaram o jogo”, argumentando que o “rosto dela está certamente mais bonito” após os ajustes. Alguns, entretanto, consideraram que as alterações ainda não foram suficientes, pedindo aos criadores dos mods que “refinem o nariz um pouco mais” ou “diminuam um pouco a mandíbula” da personagem, buscando uma idealização estética ainda maior.
Em meio a essas demandas por alterações cosméticas, surgiram vozes críticas que questionam a natureza dessas solicitações. Usuários como LordKimmington expressaram veementemente sua preocupação, declarando ser “muito estranho” e “realmente, realmente assustador” tentar “embelezar” uma protagonista infantil em um cenário de horror. De forma mais direta, outro usuário, nabarrug, simplesmente apontou que “ela é uma criança”. Contudo, essa afirmação factual foi surpreendentemente contestada por vários comentários que tentavam desqualificar a observação, questionando: “Informação estranha de se mencionar. Por que você está sequer mencionando isso?”
Apesar de opiniões como as de nabarrug e LordKimmington estarem em menor número na seção de comentários dos mods — que, no momento da redação, já acumulavam mais de 3.000 downloads únicos —, a repulsa foi muito mais generalizada em outras plataformas, como o fórum Reddit. No subreddit r/Gamingcirclejerk, por exemplo, a indignação com a ideia de sexualizar ou “embelezar” uma criança era evidente. Um usuário, identificado como u/Possible-Potato-4103, expressou sua revolta com a frase: “Ela é uma adolescente, que pa é essa?”.
A recorrência dessas discussões sobre a aparência de personagens femininas em jogos não é um fenômeno isolado. Como apontou o usuário u/AliceTheOmelette, “esta é a mesma multidão que disse que Angela, no remake de Silent Hill 2, não era sexy o suficiente”, destacando um padrão de exigências estéticas que se estende a diferentes títulos e personagens, independentemente de seu contexto ou faixa etária. A situação em torno de Hinako de Silent Hill f serve como um lembrete contundente dos desafios éticos e das discussões complexas que permeiam a interação entre a comunidade de jogadores e os desenvolvedores de games, especialmente quando envolve a representação de personagens menores de idade.
