O cenário dos videogames testemunha um fenômeno crescente e preocupante: a proliferação de jogos de baixa qualidade, frequentemente gerados com o auxílio de inteligência artificial, que imitam títulos populares. O mais recente episódio dessa tendência envolve “Astro Bot”, o aclamado vencedor do prêmio de Jogo do Ano de 2024, que agora é alvo de uma cópia descarada. O game em questão, intitulado “Astrofix Galaxy Quest”, surge como um exemplo claro do que a Merriam-Webster definiu como a “Palavra do Ano”: “slop”, referindo-se a “conteúdo digital de baixa qualidade, produzido geralmente em quantidade por meio de inteligência artificial”. (via: thegamer)
O “Astrofix Galaxy Quest” foi inicialmente notado por um fã perspicaz da PlayStation na plataforma Reddit. O jogo está programado para ser lançado em algum momento de 2026, embora sua listagem na PlayStation Store ainda estivesse ativa no momento desta redação, o que levanta questões sobre a moderação das lojas digitais.
A descrição oficial do “Astrofix Galaxy Quest”, disponível na própria PlayStation Store, apresenta o protagonista como “Astrofix, um pequeno robô de reparos destemido com um grande coração”. A premissa envolve a necessidade de “restaurar o equilíbrio das estrelas” após a fragmentação do “Núcleo Cósmico”, que teria mergulhado a galáxia no caos. A narrativa detalha que o jogador deve “saltar por planetas de diorama feitos à mão, desvendar mistérios e reparar mundos quebrados cheios de segredos e quebra-cabeças”, com o objetivo final de “reunir os fragmentos dispersos, reacender o Núcleo Cósmico e provar que mesmo o menor herói pode salvar uma galáxia inteira”. A semelhança com a identidade visual e o estilo de “Astro Bot” é notável.
Por trás de “Astrofix Galaxy Quest” está a Witenova Studio, uma empresa que afirma estar sediada na Estônia e se descreve como dedicada a “criar jogos imersivos, elegantes e com alma”. Contudo, este não é o único título de baixa qualidade com traços de “slop” no portfólio da desenvolvedora. A Witenova Studio também é responsável por “Wednesday the 13th”, um jogo de terror que apresenta uma personagem quase idêntica à moderna Wandinha Addams, interpretada pela atriz Jenna Ortega. Outro exemplo notável é “SyndiCAT: Stray Mafia”, um título que parece misturar elementos de jogos conhecidos como “Stray”, “Cyberpunk”, “Mafia” e “Sleeping Dogs”, evidenciando um padrão de apropriação de conceitos e personagens populares.
A questão do “slop” em lojas digitais não se restringe a este caso. Seja na PlayStation Store ou na Nintendo eShop, os jogadores frequentemente se deparam com uma vasta quantidade de jogos de baixo orçamento e pouco esforço, muitos deles com evidentes traços de conteúdo gerado por inteligência artificial. Essa situação tem gerado frustração entre a comunidade gamer. Conforme expressou um usuário no Reddit, “é bastante irritante ter que vasculhar [o conteúdo de IA de baixa qualidade] para encontrar jogos de verdade”. Ele sugeriu que, se as plataformas não forem remover esses títulos, ao menos deveriam oferecer a opção de filtrá-los e ocultar qualquer criação de inteligência artificial.
Em fevereiro deste ano, o portal TheGamer noticiou que a Sony havia tomado medidas para remover editores de alguns desses títulos de baixo esforço. No entanto, a situação é comparável a um jogo de “batata quente”, onde a remoção de um ou outro não é suficiente diante da proliferação de dezenas de outros jogos similares. A esperança de muitos é que a visibilidade gerada pela imitação de um título tão proeminente como “Astro Bot” possa finalmente forçar as grandes plataformas a agir de forma mais contundente. Resta saber se este caso será o catalisador para uma mudança ou se o problema persistente do “slop” continuará a desafiar a moderação nas lojas de jogos digitais.



