Hideo Kojima, um dos nomes mais reverenciados e inovadores da indústria de videogames, conhecido por dirigir e produzir títulos aclamados como “Metal Gear Solid” e “Death Stranding”, fez uma declaração significativa sobre as raízes de sua visão criativa. Segundo o próprio designer, a existência de algumas de suas obras mais impactantes está intrinsecamente ligada a uma experiência fundamental de sua infância: uma visita à Feira Mundial de Osaka em 1970. Essa revelação oferece uma perspectiva rara sobre o processo criativo por trás de jogos que redefiniram gêneros e cativaram milhões de jogadores globalmente. (via: gamesradar)
A trajetória de Kojima é marcada por uma abordagem única, em que cada jogo se destaca como uma experiência singular. No entanto, sua genialidade reside também na capacidade de buscar inspiração em um leque diversificado de culturas e formas de arte. A célebre série “Metal Gear”, por exemplo, é abertamente influenciada pelos filmes de ação americanos, absorvendo seus arquétipos, narrativas de espionagem e sequências cinematográficas que se tornaram marcas registradas. Outro exemplo claro é “Snatcher”, um de seus projetos anteriores, que serve como uma homenagem estilística e temática ao clássico filme “Blade Runner”, explorando distopias cyberpunk e dilemas humanos. Em suas criações mais recentes, Kojima tem demonstrado uma clara fascinação por estrelas de Hollywood, incorporando atores e atrizes renomados em seus elencos, o que confere um nível de produção e imersão cinematográfica distintivo aos seus jogos. “Death Stranding 2”, a aguardada sequência, aprofundará a reflexão sobre a complexa ideia de um mundo interconectado – um tema que ganhou uma nova e profunda ressonância em um contexto pós-pandemia de Covid-19, abordando as implicações sociais, tecnológicas e existenciais dessa conectividade global.
Em um ensaio publicado na prestigiosa revista japonesa an-an, cujas reflexões foram posteriormente traduzidas pela plataforma Automaton, Kojima revisitou a Feira Mundial de Osaka de 1970. Esta retrospectiva ocorre em um momento oportuno, enquanto a edição mais recente da exposição, a Expo 2025 Osaka, se aproxima de seu encerramento no final deste mês. Para o designer, a visita ao evento, realizada quando ainda era criança, teve um impacto avassalador em sua formação e em sua maneira de encarar o mundo. Ele descreve a experiência como a linha divisória entre um “antes e depois” pessoal em sua vida, um marco que moldou irreversivelmente sua percepção.
A magnitude da Feira de 1970 para o jovem Kojima é detalhada em suas próprias palavras. “Vivenciei de perto o ‘futuro e a harmonia do mundo'”, afirmou o criador, explicando o que tornou o evento tão memorável. Ele prosseguiu, destacando que a exposição “também me mostrou a coexistência de diferentes países, raças, religiões, costumes e histórias. Foi a personificação do ‘passado e futuro’, ‘o mundo e a harmonia’ em si”. Essa visão abrangente e integradora, de um planeta onde as diferenças culturais coexistem e contribuem para uma tapeçaria global, plantou as sementes de uma mentalidade que definiria sua carreira. A imersão em pavilhões que representavam diversas nações e inovações tecnológicas de ponta proporcionou uma rara oportunidade para uma criança visualizar um futuro de possibilidades e interações globais.
Kojima é enfático ao sublinhar a importância desse evento formativo para seu desenvolvimento profissional e pessoal. Segundo ele, sem a Feira Mundial de 1970, seu “pensamento futurista e globalismo jamais teriam se desenvolvido”. Consequentemente, ele afirma de forma contundente que, “como resultado, Metal Gear e Death Stranding não teriam sequer surgido”. Essa declaração não apenas revela a profundidade do impacto da exposição, mas também solidifica a ideia de que as grandes obras de arte frequentemente nascem de experiências pessoais profundamente significativas. A complexidade geopolítica e as questões éticas em torno da guerra e da tecnologia, tão presentes em “Metal Gear”, e a temática da construção de pontes em um mundo fragmentado, central em “Death Stranding”, podem ser vistas como extensões diretas dessa visão global e futurista que ele absorveu na infância. A narrativa de seus jogos, muitas vezes transcontinental e focada na interdependência de personagens e nações, reflete diretamente os ideais de coexistência e harmonia observados na feira.
Em contraste com a epifania vivida em 1970, Kojima expressou uma certa desilusão com a edição atual da Feira Mundial de Osaka. Ele percebeu uma notável carência de ambição e de uma visão verdadeiramente futurista nos pavilhões e exibições apresentados. Contudo, o próprio designer reconhece a subjetividade de tal julgamento, admitindo que a experiência de visitar um evento na casa dos 60 anos de idade é intrinsecamente menos maravilhosa e transformadora do que a de uma criança. A capacidade da infância de se maravilhar, de absorver novidades com total ingenuidade e otimismo, muitas vezes se perde na perspectiva mais crítica e experiente da vida adulta, o que pode influenciar a percepção de grandiosidade e inovação.
Adicionalmente, Hideo Kojima também parece ter confirmado detalhes sobre um de seus próximos e muito aguardados projetos, intitulado “OD”. Este novo jogo será uma produção de terror com formato de antologia, prometendo explorar diferentes facetas do medo. O segmento específico dirigido por Kojima dentro da obra será focado em uma premissa intrigante: o “medo da batida” – um conceito que, para o gênero de terror, sugere uma exploração de ansiedades relacionadas à invasão, ao desconhecido à porta, ou a sons perturbadores que permeiam o ambiente, aprofundando a atmosfera de suspense psicológico que ele é conhecido por criar. Essa diversificação para o terror em formato de antologia indica uma contínua busca por inovação e por novas formas de narrar histórias dentro da indústria de jogos eletrônicos.